terça-feira, 15 de abril de 2014

Os Estudos da Tradução No Brasil

Resenha do texto: Os Estudos da Tradução no Brasil
Por Simone Vieira Resende

Referência: 

1. MILTON, John. Translation Studies in Brazil. Lintas Bahasa Translingua (Indonesia), v.15, p. 53-62, 2011.


O texto do professor John Milton da Universidade de São Paulo conta a história do desenvolvimento da disciplina Estudos da Tradução no Brasil.
O texto está organizado em quatro partes distintas. A formação da disciplina, o crescimento dos cursos de pós-graduação nas décadas de 80 e 90, a institucionalização dos Estudos da Tradução e a parte final que trata de assuntos relevantes sobre essa área de investigação.
De acordo com John Milton, o pesquisador Paulo Ronái é considerado o pai dos Estudos da Tradução no Brasil, o imigrante húngaro foi editor e tradutor de várias obras de Balzac para o português em um projeto da Editora Globo entre 1945 e 1955. Como editor e tradutor ele já se interessava pelas questões tradutórias.
Na década de 80 os irmãos Haroldo e Humberto de Campos se destacavam traduzindo obras de grande renome para o português e dando prestígio acadêmico à tradução. Eles eram inovadores com seus conceitos teóricos e davam ênfase aos aspectos visuais e auditivos da tradução. Haroldo ficou conhecido por cunhar o termo “transcriação” que em um primeiro momento se referia as estratégias tradutórias que não seguiam a dicotomia forma/conteúdo da poesia. Para Haroldo de campos a transcriação ou recriação não era sinônimo de infidelidade, pelo contrário, segundo ele, esse fenômeno passava longe da adaptação e era, de uma forma geral, extremamente fiel ao texto de partida.
A tradução dos dois, assim como a teoria de tradução apresentada por eles, apresenta maneiras de se abrasileirar algumas expressões, lançar mão de neologismos e transcriar trechos. A meu ver, esse arcabouço criado e defendido por eles muito contribuiu para a fundamentação dos estudos da Tradução como conhecemos hoje. Como tradutores, ele foram responsáveis por introduzir muitos autores universais no sistema literário brasileiro, como investigadores e teóricos da tradução, propagaram ideias inovadoras sobre a estética, a teoria literária, a semiótica. A obra dos irmãos Campos é dotada de muita universalidade, com grande alcance internacional.
Outro pesquisador e tradutor que se sobressai nessa época é José Paulo Paes, ele concorda com muitas das ideias dos irmãos Campos, porém discorda do uso dos neologismos em obras traduzidas. JPP dedicou a literatura e depois que se aposentou como editor, ele deu início a vários trabalhos como tradutor, trazendo para o português obras de Charles Dickens, Joseph Conrad, Lewis Carroll, entre outros tantos. Como reconhecimento pelo excelente trabalho como tradutor, ele foi nomeado diretor da oficina de tradução de poesia do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, a UNICAMP. 
Outro autor reconhecido por sua contribuição aos estudos da Tradução como disciplina foi Nelson Ascher. Eles escreveu vários artigos sobre tradução e também era tradutor. Assim como José Paulo Paes, Ascher também não tinha uma formação em literatura, Paes era químico de formação e Ascher estudou um pouco de medicina, mas se formou em administração. Ele trabalhava como jornalista, escritor e editor.
Sendo assim, fica fácil perceber que a produção de estudos e colocações sobre a tradução no Brasil não se iniciou na academia, ou seja, na universidade, sendo antes disso um fenômeno que começou fora dela, nas editoras, nos projetos editoriais de tradução e escrita literária. Pode-se notar que esse fenômeno se deu a partir das publicações na Folha de São Paulo de alguns artigos dos irmãos Campos, Paes e Ascher. Esses artigos, mais tarde, foram também publicados pelo primeiro periódico sobre tradução lançado no Brasil, o Tradução e Comunicação, da UNIBERO.
Apenas nas décadas de 80 e 90 foi que a universidade começou a demonstrar interesse pelos estudos da tradução. Haroldo de Campos, José Paulo Paes e Nelson Ascher começaram a se encaixar em projetos universitários, o primeiro foi convidado a lecionar na Pós -graduação e o segundo organizou o primeiro seminário sobre tradução na Unicamp e o terceiro criou a Revista USP e é seu editor. Nesse período era muito grande o interesse dos alunos em estudar tradução no nível de mestrado e doutorado, essa demanda fez a oferta crescer e outros cursos de formação em tradução começaram a se espalhar pelo Brasil.
O segundo ponto importante do artigo trata da institucionalização da disciplina.  Nesse trecho o autor reforça a necessidade de se observar os fatores que fazem com que se reconheça uma disciplina acadêmica como sendo independente. Não se trata apenas de possuir sua própria linha teórica. Esse estabelecimento se dá a partir da observação de alguns elementos como a fundação de grupos, organizações e associações que possam vir a organizar congressos, simpósios e encontros sobre o assunto, assim como publicações acerca da tradução. O autor ressalta a criação da ANPOLL, da ABRAPT e consequentemente dos eventos organizados por essas associações e organizações.
A publicação de Jornais e periódicos, assim como a criação de cursos de pós-graduação são fatores que também marcam o estabelecimento dessa área como uma disciplina acadêmica independente.
O final do artigo ressalta as mudanças ocorridas no campo da tradução por conta das novidades tecnológicas que tomam conta do globo, - como por exemplo o advento das ferramentas tradutórias, o uso de corpora eletrônicos, a tradução automática e o uso da internet - como sendo um marco para a evolução e consolidação da disciplina como um todo. Essa tecnologia trouxe para os ET diferentes áreas de investigação e que podem ainda ser amplamente exploradas como no caso da tradução de libras, da tradução áudio visual, da localização e muitas outras.
Para John Milton, a disciplina cresceu muito aqui no Brasil, mas, segundo ele, ainda se publica muito pouco sobre as pesquisas realizadas aqui no Brasil, principalmente nos jornais e periódicos internacionais.



Nenhum comentário:

Postar um comentário